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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

OS RUBAYAT Omar Khayyan



Busca a felicidade agora, não sabes de amanhã.
Apanha um grande copo cheio de vinho,
senta-te ao luar, e pensa:
Talvez amanhã a lua me procure em vão.
                      -
Além da Terra, pelo Infinito,
procurei, em vão, o Céu e o Inferno.
Depois uma voz me disse:
Céu e Inferno estão em ti.

                       -  
Não vamos falar agora, dá-me vinho. Nesta noite
a tua boca é a mais linda rosa, e me basta.
Dá-me vinho, e que seja vermelho como os teus lábios;
o meu remorso será leve como os teus cabelos.

                       
                      -      
Não me lembro do dia em que nasci;
não sei em que dia morrerei.
Vem, minha doce amiga, vamos beber desta taça
e esquecer a nossa incurável ignorância.

               -
É inútil te afligires por teres pecado;
também é inútil a tua contrição:
além da morte estará o Nada,
ou a Misericórdia.


-
O vasto mundo: um grão de areia no espaço.
A ciência dos homens: palavras. Os povos,
os animais, as flores dos sete climas: sombras.
O profundo resultado da tua meditação: nada.


                                       -

Eu estava com sono e a Sabedoria me disse:
A rosa da felicidade não se abre para quem dorme;
por quê te entregares a esse irmão da morte?
Bebe vinho; tens tantos séculos para dormir.



                -
A vida é um jogo monótono que dá dois prêmios:
A Dor e a Morte.
Feliz a criança que expirou ao nascer;
mais feliz quem não veio ao mundo.



                    -
O mundo gira, distraído dos cálculos dos sábios.
Renuncia à vaidade de contar os astros
e lembra-te: vais morrer, não sonharás mais,
e os vermes da terra cuidarão do teu cadáver.

                         -
O oleiro ia modelando as alças e os contornos
de uma ânfora. O barro que ele conformava
era feito de crânios de sultões
e mãos de mendigos.

                       -
Um jardim florido, uma bela mulher, e vinho.
Eis o meu prazer e a minha amargura,
o meu paraíso e o meu inferno.
Mas quem sabe o que é Céu e o que é Inferno?

                    -
Iremos nos perder na estrada do amor,
e o destino nos pisará, indiferente.
Vem, menina, taça encantada, dá-me de beber
em teus lábios, antes que eu me torne pó.

                                         -

Um pouco de pão, um pouco de água,
a sombra de uma árvore, e o teu olhar;
nenhum sultão é mais feliz do que eu,
e nenhum mendigo é mais triste.
  
                                                         -

Falam de um Criador...
e Ele deu forma às criaturas para destruí-las?
Por que são feias? Por que são belas?
Quem é o responsável? Não compreendo nada.
                                 -
Vinho! Que palpite em minhas veias,
que inunde a minha cabeça. Silêncio!
Tudo é mentira. Copos! Depressa!
Envelheci muito.
             
                                                         -   

Do meu túmulo virá um tal perfume de vinho
que embriagará os que por lá passarem,
e uma tal serenidade vai pairar ali,
que os amantes não quererão se afastar.

                                                        -
No turbilhão da vida são felizes aqueles
que presumindo saber tudo não se instruem.
Fui buscar os segredos do Universo e voltei
invejando os cegos que encontrei pelo caminho.
                         -
Em que pensas? Nos que já morreram? São pó no pó.
Pensas nas virtudes que tiveram? Sim? Deixa-me sorrir.
Toma este copo, vamos beber; ouve sem inquietação
o vasto Silêncio do Universo.

  



Versão em Português de
Alfredo Braga